quarta-feira, 29 de junho de 2011

Frio

Pés gelados, nariz vermelho, lábios rachados, o corpo todo encolhido. É inverno e o frio dói, mas dói mais ainda ver a frieza nos corações, pessoas que se esbarram nas esquinas e que não são capazes de se olhar, se cumprimentar, nem sequer sorrir. Pobre mulher carregando seu filho sob a garoa gélida, mau agasalhado, nariz escorrendo.  Ninguém os vê, ninguém os percebe. Alguns saboreiam variedades de sopas e vinhos, que deixam o inverno mais charmoso, outros são obrigados a forrar os sapatos com jornais para disfarçar a unidade incômoda causada pelo furo no sapato. É nessa época que as diferenças sociais ficam mais expostas e não no Natal como pensa a maioria. No Natal todos se mobilizam para encher as crianças pobres de bugigangas, buscando suprir desejos e sonhos, mas é no inverno que a necessidade se faz mais cruel, só quem já passou frio é que sabe. No inverno o corpo quer mais calorias, temos mais fome, precisamos de mais energia e no entanto quantos estão com o estômago vazio enrolados em cobertores precário e surrados num canto qualquer. Se a praia é o local mais democrático que existe, o inverno é onde alguns tem direitos e outros apenas a esperança.
Marta Silva

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